Um drama humanitário, ambiental, sanitário e migratório
Como sou jovem, nunca vi algo do tipo. O estado do Acre vive momentos dramáticos, com múltiplas crises: em Assis Brasil, na fronteira com o Peru, uma crise migratória; o rio Juruá registra marcas históricas de cheia e alagou pelo menos 10 municípios; além disso, o estado também enfrenta um surto de dengue em diversos municípios e, claro, a pandemia da Covid-19.
“Vivemos uma terceira guerra mundial”, resumiu o governador do Acre, Gladson Camelli (PP), em entrevista à CNN Brasil no último domingo (21). Ele declarou situação de emergência no estado na terça-feira (16).
Conflito na fronteira
O município de Assis Brasil vive uma situação peculiar, que culminou numa crise migratória. Um grupo de cerca de 200 famílias —a maioria de origem haitiana— está acampada na Ponte da Integração, que marca a fronteira entre Brasil e Peru, esperando autorização para entrar no Peru.
Em sua maioria, os migrantes desejam fugir da Covid-19, que se mantém em alta no Brasil. No entanto, é justamente a situação do Brasil frente à pandemia que os impede de cruzar a fronteira, uma vez que a circulação de pessoas está proibida entre os dois países.
As tensões cresceram no dia 14 de fevereiro, quando um grupo de ao menos 350 migrantes tentaram forçar a entrada no Peru e foram repreendidos com truculência pela polícia peruana.
Cidades inundadas
A natureza segue implacável. O verão amazônico trouxe consigo o período mais chuvoso do ano e, por consequência, os rios voltam a encher, mas, este ano, os índices estão batendo recordes. O rio Juruá, por exemplo, ultrapassou os 14 metros e registrou a maior cheia desde 2017.
Pelo menos dez cidades estão alagadas pela cheia dos rios, atingindo quase 120 mil pessoas. A previsão ainda é de mais chuvas para os próximos dias.
No município de Cruzeiro do Sul são mais de 28 mil famílias afetadas direta ou indiretamente pela cheia do Juruá e 3,9 mil famílias desalojadas.
No domingo (21), o governo do Acre divulgou que oito das dez cidades atingidas pelas cheias dos rios estão com vazante e com estabilidade após os rios baixarem alguns centímetros. O movimento das águas, apesar de animador, ainda é insuficiente para amenizar a crise ambiental e humanitária.
Colapso na saúde
Segundo a secretaria de saúde do Acre, 87,5% dos leitos estão ocupados na rede pública de saúde. A estimativa é de que a dengue seja responsável por 80% dos atendimentos nas unidades de pronto atendimento de Rio Branco, chegando a 8,6 mil casos suspeitos.
Em janeiro, o governo estadual apontou que 15 das 22 cidades acreanas corriam risco de surto da dengue. Tudo isso em meio a uma pandemia que já tirou a vida de 963 pessoas no estado. Mais de 54,7 mil pessoas testaram positivo para a Covid-19 no Acre.
Para acompanhar mais de perto a situação do Acre, a Tipiti preparou uma lista de jornalistas que atuam no estado. Confira:
Boa notícia
Na última sexta-feira (19), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a suspensão da lei estadual nº 1.453/2021, de Roraima, que instituiu o licenciamento para a atividade de lavra garimpeira no estado.
A legislação era controvérsia e foi alvo de diversas críticas por movimentos sociais, que questionavam os efeitos da medida sob o meio ambiente e sob os povos indígenas.
O ponto mais polêmico da lei é permissão do uso de mercúrio na lavra do ouro, ao mesmo tempo que a contaminação por mercúrio se alastra entre o povo Yanomami.
[Extra]
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