Um dos temas mais recorrentes na Tipiti é a emergência sanitária da Covid-19 entre os povos tradicionais da Amazônia. Com a chegada das vacinas contra o coronavírus, a expectativa era de ação imediata para a pronta imunização de comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas.
Simbolicamente, em muitos estados da região Norte, indígenas estavam entre as primeiras pessoas vacinadas nas midiáticas cerimônias organizadas pelos governos estaduais. Da mesma forma, o Plano Nacional de Imunização (PNI) determinava a vacinação dessas populações vulneráveis ainda no primeiro lote de imunizantes.
Os dados de doses aplicadas, no entanto, não parece a urgência da crise sanitária. A vacinação na Amazônia, em especial para as populações indígenas, anda a passos lentos.
Esta hipótese foi confirmada por uma pesquisa da Open Knowledge Brasil. Uma análise de microdados mostrou que a vacinação entre indígenas na Amazônia Legal segue em ritmo mais lento que em outras regiões do país. Um terço dos vacinados está na região, que abriga pelo menos 60% da população indígena brasileira.
Além disso, os dados mostram que o ritmo de imunização entre povos indígenas é o que está mais atrasado entre os grupos priorizados pelo governo federal.
A vacinação de novas pessoas indígenas foi drasticamente reduzida quando ainda estava no patamar de 55% da população prevista, enquanto a segunda dose só chegou a 29% do público de 413.739 indígenas que deveriam tomar a vacina.
A título de comparação: profissionais da saúde formam um grupo 13 vezes maior que o dos indígenas; porém, 67% dos profissionais de saúde já convocados haviam recebido a primeira dose.
O ritmo lento da vacinação preocupa as lideranças indígenas. Em São Gabriel da Cachoeira, município considerado o mais indígena do país, a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn) encaminhou um ofício cobrando celeridade na vacinação ao Ministério da Saúde, à Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), à Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS) e à secretaria estadual de Saúde.
“Já somamos 104 mortes em São Gabriel da Cachoeira por Covid-19, sendo que 44 somente em 2021 devido à segunda onda. Se a vacina não chegar como previsto pelo plano nacional e imunizar toda a população indígena rapidamente, tememos a chegada de uma terceira onda que já é realidade nos países da Europa”, alertou ao Instituto Socioambiental o presidente da Foirn, Marivelton Barroso, do povo Baré.
Outro fator que tem atrapalhado a vacinação entre indígenas é a desinformação. São cada vez mais presentes as peças que distorcem informações sobre os imunizantes e seus poderes de ação. Muitas das vezes, essas peças mentirosas chegam às comunidades pelas mãos de não indígenas.
Águas de abril
Ainda vai demorar um pouco para as chuvas darem trégua aqui pela Amazônia. Reflexo dos fenômenos climáticos, as cheias dos rios prometem índices históricos em 2021.
Na edição 21 da Tipiti, falamos sobre as enchentes no Acre. O estado do Amazonas já sente os reflexos da alta nas águas, com pelo menos 12 municípios em estado de emergência. Segundo o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), o estado deve enfrentar cheias severas este ano.
Em Rondônia, o nível das águas do rio Madeira também colocaram autoridades em atenção.
[EXTRA]
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Tipiti Indica
Nesta terça-feira (13), às 18h (horário de Brasília), o Museu Nacional lança a exposição online Os primeiros brasileiros, que vai possibilitar ao visitante um mergulho em parte do universo indígena brasileiro a partir de painéis históricos, músicas, filmes e fotografias que registram a diversidade e as narrativas dos povos indígenas.