Os ataques de garimpeiros ilegais a comunidades indígenas na TI Yanomami, em Roraima, ganharam espaço no noticiário nacional. Historicamente, a região, que abriga a maior Terra Indígena no Brasil, é alvo do garimpo ilegal, com forte resistência de comunidades locais.
Protegido pela Constituição Federal, o território também sofre com o aumento da malária, com a desnutrição infantil crônica e com a pandemia do novo coronavírus.
A Tipiti separou alguns pontos para ajudar a entender os ataques e a tensão no local:
Os ataques de garimpeiros não iniciaram recentemente. A tensão entre indígenas e invasores é frequente e histórica na região. Os relatos, no entanto, são de que os últimos incidentes foram distintos de tudo o que já haviam presenciado antes nessa zona de conflitos.
Fortemente armados, os garimpeiros atacam comunidades indígenas, que respondem como podem, com flechas e tiros de espingarda. Durante o confronto, duas crianças de 1 e 5 anos se perderam e seus corpos só foram encontrados boiando no rio Uraricoera.
Até mesmo uma bomba de gás lacrimogênio foi lançada pelos garimpeiros na tentativa de intimidar os yanomami.
O cenário atual já era previsto e alertado constantemente por lideranças e associações indígenas.
"Há muito anos falamos com todas as autoridades, que já conhecem nossa realidade, já denunciamos até na ONU, mas até agora ninguém deu nenhuma resposta para nós", afirmou o líder yanomami Dário Kopenawa, em reunião do Conselho Nacional dos Direitos Humanos(CNDH), em 2020.
A alta da cotação do ouro e a crise socioeconômica decorrente da pandemia multiplicaram a atividade garimpeira no território, segundo avaliação do Instituto Socioambiental.
Os garimpeiros deixaram o local, mas ameaçaram se vingar. Segundo a Associação Yanomami Hutukara, os profissionais de saúde da aldeia Palimiú, local do ataque, foram removidos pelo Ministério da Saúde.
O presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye´kuana (Condisi-Y), Junior Hekurari, divulgou um vídeo chamando os governos federal e estadual de omissos.
“Até agora, a PF não mandou força policial. A comunidade corre risco muito grande. O governo federal precisa fazer intervenção imediata. O povo Yanomami está com muito medo; não estão conseguindo dormir”, disse.
Reflexos da mineração
O Ministério Público Federal (MPF) recomendou a suspensão imediata do depósito de resíduos ou lançamentos de qualquer tipo de substâncias em barragens de retenção do Complexo Mineral do Pitinga, no Amazonas, que apresentou vazamento e já contaminou um igarapé e dois rios localizados no interior da terra indígena Waimiri Atroari, em Presidente Figueiredo.
O complexo é de responsabilidade da empresa Mineração Taboca, que atua na mineração e metalurgia de estanho e minerais industriais.
O relatório mais recente sobre a situação no local, produzido pela Fundação Nacional do Índio (Funai), apontou a necessidade de adoção de medidas urgentes para proteger os kinja, como se autodenominam os indígenas waimiri atroari.
A contaminação já alterou a qualidade da água do igarapé Jacutinga e dos rios Tiaraju e Alalaú, de onde os indígenas retiram a água para consumo, higiene e preparo dos alimentos e onde realizam a pesca para alimentação.
Contrastes
Como diria Leandro Tocantins, o rio comanda a vida. O movimento das águas vai além da mudança na paisagem e afeta diretamente o cotidiano dos povos amazônidas.
Em 2021, os rios da bacia amazônica registraram uma cheia atípica, histórica. Em Manaus, por exemplo, o rio Negro já atingiu a marca de 28,89 metros, faltando apenas 8 centímetros para alcançar a cheia de 2012.
O fotógrafo Diego Peres registrou a orla do bairro São Raimundo, na capital amazonense, nos meses de setembro de 2020 e maio de 2021. Nas imagens, é possível ver o contraste entre a cheia e a vazante do rio.
[Extra]
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