Cadê os povos tradicionais?
Edição 31
Nesta edição, vamos fazer um resumo dos debates do encontro anual da Força-tarefa de governadores pelo clima e pelas florestas (GCF Task Force), que aconteceu nos últimos dias 16, 17 e 18 de março, em Manaus. Também trazemos nosso tradicional resumo de notícias socioambientais. Boa leitura!
Governadores estaduais do Brasil e países tropicais, lideranças políticas, ambientais, indígenas, ribeirinhos, quilombolas e ativistas se reuniram nos últimos dias 17 e 18 de março em Manaus para debater soluções para os efeitos da crise climática sob essas regiões.
A emergência é global e injusta. Os povos que menos devastaram o ambiente são os que mais sofrem e, não coincidentemente, os que menos participam das instâncias de decisão.
Foi o alerta dado por Juan Carlos Jintiach, da coordenadoria das organizações indígenas da bacia Amazônica (Coica) e um dos únicos indígenas a discursar no evento de abertura da GCF Task Force.
“Há mais de 50 anos, nós temos nos organizado para participar [de eventos como este], para apresentar nossas demandas”, disse a liderança equatoriana.
Além de Jintiach, a professora acreana Francisca Aranha também falou sobre a presença dos povos tradicionais nos debates sobre a crise climática.
“Nós [indígenas] preservamos a floresta, cuidamos, mas nós sofremos os impactos direta e indiretamente. Nós não somos o problema, nós somos a solução. [...] Queremos o apoio de políticas públicas de acordo com a nossa necessidade, dialogando, consultando e não colocando goela abaixo”, apelou.
Do encontro de lideranças saiu o ‘Manaus Action Plan’, um documento assinado pelos governadores com diretrizes de apoio ao desenvolvimento sustentável e aos povos locais.
Segundo o secretário de meio ambiente do Amazonas, Eduardo Taveira, “o plano irá se desdobrar nas estratégias locais desses estados, que juntos somam mais de um terço das florestas tropicais do mundo”.
De forma superficial, o documento traz diretrizes para o apoio das comunidades e povos tradicionais. O texto fala em “gestão participativa de áreas protegidas”, “programas sociais baseados na comunidade” e “parcerias com as comunidades locais”.
A representante do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Sinéia do Vale, do povo Wapichana, ressaltou que os povos originários são “especialistas em clima”.
“Para nós, é muito difícil quando tem um debate tão importante sobre clima e esses espaços de discussão, nos quais poderíamos estar trocando e aprimorando conhecimento, estão eliminados”, criticou a liderança Wapichana.
“Por isso, dizemos que a mudança climática já chegou nas comunidades indígenas e que precisamos estar atentos a esse acordo […] para que seja cumprido de fato, e que a legislação brasileira em relação ao clima seja respeitada”, concluiu.
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Amazônia minada
Mesmo que a legislação não autorize a atividade mineral nessas áreas, o governo brasileiro mantém em tramitação nada mais nada menos que 3.595 requerimentos de mineração em terras indígenas e unidades de conservação de proteção integral na Amazônia brasileira.
Os dados, que estão disponíveis para consulta pública na plataforma Amazônia minada, do Info Amazônia, mostram o avanço das mineradoras sobre terras indígenas como a TI Capoto/Jarina, do cacique Raoni, e a TI Yanomami, de Davi Kopenawa.
O desafio do transporte fluvial
Quem mora na região Norte já tá mais do que acostumado com a realidade que o transporte fluvial representa, afinal, como muitos dizem por aqui, os rios são as nossas estradas.
Na periferia de Belém, o que poderia representar um avanço na mobilidade urbana ainda é um potencial pouco debatido. O repórter Cassio Miranda, do coletivo paraense Periferia em Foco, contou um pouco das dificuldades e perspectivas de quem mora nos territórios belenenses.
Espécie descoberta ameaçada de extinção
Uma nova espécie da flora brasileira foi descoberta em florestas de campinarana, no nordeste do Amazonas, durante uma pesquisa ecológica inédita feita por cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
A Tovomita cornuta é uma árvore de pequeno porte e, mesmo recém descoberta, já é considerada ameaçada de extinção devido à exploração humana em sua área de ocorrência.