#5 pandemia nos quilombos
A Covid-19 continua avançando. Comunidades quilombolas já registram mais de uma morte por dia e os Yanomami receberam operação militar que distribuiu cloroquina e acabou virando alvo do MPF
Semana passada nossa newsletter destacou o descaso das autoridades com os povos indígenas e os efeitos perversos da pandemia da Covid-19 nessa população. Nesta edição, nos voltamos à população quilombola.
Coronavírus avança

(Foto: Atitude Comunicação)
Um levantamento da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA), 126 quilombolas já morreram vítimas da pandemia. A média já passa de uma morte por dia.
Na Amazônia, esta realidade é devastadora. O Pará desponta como o segundo estado com maior número de mortes entre quilombolas, com 34 registros, atrás do Rio de Janeiro (36) e seguido pelo Amapá (16) e por Maranhão (9). Amazonas e Mato Grosso registraram um óbito cada.
Segundo uma pesquisa do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Ambientes Amazônicos (Nepam), da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), a Covid-19 mata mais quilombolas na Amazônia que em qualquer outra localidade da América Latina.
Para entender melhor, a reportagem da jornalista Rebeca Beatriz para o G1 Amazonas detalha o estudo.
Operação militar em Terra Indígena
Muito se falou sobre a inércia do governo federal frente às ameaças da pandemia entre indígenas. Semana passada o governo Bolsonaro resolveu agir e, como de costume, o uso das Forças Armadas foi a solução encontrada pelo Planalto. Militares estiveram na TI Yanomami, em Roraima, distribuindo mais de 60 mil comprimidos de cloroquina.
Como o remédio não tem efeito comprovado no tratamento da Covid-19, o Ministério Público Federal recebeu denúncias das lideranças indígenas e começou a investigar a visita.
Ao mesmo tempo, pesquisadores da Rede Pró-Yanomami e Ye’kwana pedem que a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) comece a utilizar testes do tipo RT-PCR, que utiliza técnicas da biologia molecular, no diagnóstico do novo coronavírus.
Segundo uma nota publicada pelo coletivo, os testes rápidos são úteis para “documentar e contabilizar, de forma retrospectiva, os casos de Covid-19”, mas “apresentam uma evidente limitação para controlar a propagação da epidemia”.
Na sexta-feira (3), o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1), atendendo a um pedido do MPF, determinou a adoção imediata de um plano emergencial para barrar o garimpo ilegal na TI Yanomami. Segundo o MP, há mais de 20 mil mineradores ilegais contra uma população de cerca de 26,7 mil indígenas Yanomami.
Em tempo… Uma rápida atualização. Semana passada falamos sobre o desaparecimento do corpo de bebês Yanomami em Roraima. Uma das quatro mães, do subgrupo Sanöma, recebeu o corpo da criança – uma menina -, na aldeia Onkopiu, na região de Auaris, na quarta-feira (1º).
[EXTRA]
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ESTA SEMANA
O ministro Ricardo Salles anunciou na quarta-feira (1º), em entrevista à CNN Brasil, que pretende lançar esta semana um programa que estabelece a participação de empresas estrangeiras na preservação da Amazônia.
Na sexta-feira (3), uma portaria publicada no Diário Oficial instituiu o programa Floresta+ para estimular o "mercado privado de pagamentos por serviços ambientais em áreas mantidas com cobertura de vegetação nativa".
Segundo Salles, o projeto vai destinar o montante de R$ 500 milhões a pessoas físicas ou jurídicas que, de forma direta ou por meio de terceiros, executem atividades de serviços ambientais em áreas mantidas com cobertura de vegetação nativa ou sujeitas à sua recuperação.
Outro programa anunciado por Salles é o Adote um Parque, que vai permitir que empresas financiem e se responsabilizem pela preservação de unidades de conservação federais na Amazônia. Os detalhes do projeto devem ser divulgados esta semana, por isso, recomendamos atenção.
Antes de ir…
Queremos agradecer a você que se inscreveu e chegou até aqui. Queremos agradecer também à nossa equipe de colaboradores. Esta edição teve a participação dos jornalistas Anna Reis, Gabriel Veras e Jorge Martins.
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Bem, por hoje é só. Até semana que vem!